sábado, janeiro 21, 2012

O prato do ministro da Economia



Estamos quase a chegar ao Entrudo e as Danças e Bailinhos, após meses de ensaio, estão praticamente já prontos para o tradicional rodopio à volta da ilha Terceira.

– Todavia, e embora não se possa desejar que Carnaval seja todos os dias (como do Natal angelicamente se diz e suspira em cândidas loas), a verdade é que algo (ou muito, conforme as máscaras…) daquela quadra de pândega e disfarces nunca deixa de afluir quotidianamente a terreiro, palco de salão ou espaço público mediático, de acordo com o interesse do enredo, a verve do letrista e o histriónico virtuosismo ou expressividade teatral dos atores (desde o mais hamletiano ou vicentino figurante ao proverbial, escangalhado e improvisado ratão…).

Ora muito daquilo que temos observado bastante faz evocar autênticas facécias burlescas, que cómicas apenas seriam se, nalguns casos, dramáticas ou confrangedoras não fossem, e se mais penosos ainda não se franqueassem já os dias que antecedem uma próxima e mais sofrida Quaresma, com jejuns, abstinências e memórias do pó histórico a que todos estamos destinados…

– Mas vem isto hoje a propósito e retentiva devido às inspiradas, doutas e convincentes sugestões de filosofia e prática mercantis – para credenciadíssima venda de produtos de excelência, com garantia de desenvolvimentismo, almejada internacionalização e imaginativo marketing, de umas ditas e (re)produtivas coisas nacionais –, tal como o titular do cardápio da Economia que temos, melosa, transpirada e odorificamente as elencou e engrolou de tribuna, adoçando-as e pincelando-as com os seus seletos e fantásticos modelos de fisganço para verosímil exportação estratégica

A lista foi curta, mas atraente; a saber: os tão famosos pastéis de nata e o apetitoso frango de churrasco – à falta, certamente por plausível esquecimento seu, de outros dos famosos exemplos do quase mágico empreendorismo em voga por aí (e que, como tal, já constam até do livro cuja capa ilustra esta Crónica, indo lá desde a produção histórica de batinas e clerezias bracarenses até sanitas mui sexy (sic), conforme se pode ler a páginas 121-149 –, para já nem lembrar ao seu governo de pragmática ou ficcionalmente passar a internacionalizar, doravante um pouco mais, outros identicamente mundializáveis pitéus lusitanos (do género “postas de bacalhau à Simon Fraser”, “coelho à Troika” ou “ arroz chau chau com rebentos à Catroga”..., e tudo, ao final – pois então! – talvez castiçamente regadinho a genuíno garrafão de 5 do melhor tintol português…).

– Um mimo pois, em síntese, o novo, alvitrado e nobelizável Tratado de Economia Política esboçado na prédica ministerial do quase sempre sisudo, tímido e compenetrado Santos Pereira, como pode ser ainda apreciado em: http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=517711&headline=20&t=O-ministro-da-Economia-quer-exportar-os-pasteis-de-nata.rtp&tm=6&visual=9.

E assim, que belo prato aquele, o (do) nosso ministro…
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Publicado em "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 22.01.2012),
 http://tv2.rtp.pt/acores/index.php?headline=14&visual=10,
 http://www.azoresdigital.com/ler.php?id=2191&tipo=col
e http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=26732