sábado, novembro 24, 2012


Um Inventário Exemplar




Acaba de ser lançada a obra Arte Sacra no Concelho de Reguengos de Monsaraz, décimo volume de uma bela série editada pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA) e dedicada ao Património Histórico-Religioso da Arquidiocese de Évora, no qual estão registadas e tratadas “peças de arte e devoção [que] são testemunhos do cruzamento entre as culturas Cristã e Oriental resultante da ocupação político-militar, da missionação e das dinâmicas comerciais implementadas ao longo de séculos”, conforme foi devidamente sublinhado no comunicado que a FEA distribuiu a propósito deste tão meritório evento.

Porém, todo este muito apreciável e rigoroso projecto merece hoje menção aqui, não só porque tem efectivamente procedido a um anunciado trabalho de “levantamento, estudo e catalogação do património artístico disperso por igrejas, capelas, seminários e instituições religiosas” de Portugal Continental – identificando e preservando assim muitas peças de interesse religioso, cultural e civilizacional –, mas também porque tem sido coordenado técnico-cientificamente pelo investigador açoriano Artur Goulart de Melo Borges.

– Natural da ilha de S. Jorge e residente em Évora desde 1979, antigo professor do Seminário de Angra e chefe-de-redacção do saudoso vespertino “A União”, também escritor e poeta, Artur Goulart é licenciado em Arqueologia pelo Pontificio Instituto di Archeologia Cristiana  (Itália), possuindo pós-graduações em Museologia e História da Arte, sendo que da sua longa e diversificada experiência profissional, sobretudo no Museu de Évora, destaca-se o cargo de Director desta mesma instituição (1992 e 1999), onde deu um precioso contributo à inventariação do seu acervo artístico, à investigação bibliográfica e ao estudo aprofundado de obras de arte e de material arqueológico, conforme é justamente salientado na excepcional Página Digital do projecto que tão competente e prestigiantemente tem vindo a dirigir e cuja visita vivamente recomendo, aqui: http://www.inventarioaevora.com.pt/inicio.asp.

Numa época em que, por esse Portugal fora e também entre nós (autónoma, esbanjante e auto-suficientemente, pois então…) tantos valores e patrimónios humanos, intelectuais, materiais, artísticos e espirituais vão sendo amiúde atirados à rua – ou aos brincos e argolinhas da mais incrível discriminação apadrinhada… –, o valioso labor e o dedicado exemplo cultural, educativo, ético e cívico de Artur Goulart, para além da amizade pessoal e fraterna que por ele nutro, não podiam ficar, nesta data, sem registo escrito e merecido louvor público!
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Publicado em Azores Digital:
Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 25.11.2012);