Um Inventário Exemplar
Acaba de ser lançada a
obra Arte Sacra no Concelho de Reguengos
de Monsaraz, décimo volume de uma bela série editada pela
Fundação Eugénio de Almeida (FEA) e dedicada ao Património Histórico-Religioso
da Arquidiocese de Évora, no qual estão registadas e tratadas “peças de arte e
devoção [que] são testemunhos do cruzamento entre as culturas Cristã e Oriental
resultante da ocupação político-militar, da missionação e das dinâmicas
comerciais implementadas ao longo de séculos”, conforme foi devidamente sublinhado
no comunicado que a FEA distribuiu a propósito deste tão meritório evento.
Porém, todo este muito apreciável
e rigoroso projecto merece hoje menção aqui, não só porque tem efectivamente
procedido a um anunciado trabalho de “levantamento, estudo e
catalogação do património artístico disperso por igrejas, capelas, seminários e
instituições religiosas” de Portugal Continental – identificando e preservando
assim muitas peças de interesse religioso, cultural e civilizacional –, mas
também porque tem sido coordenado técnico-cientificamente pelo investigador
açoriano Artur Goulart de Melo Borges.
– Natural da ilha de S. Jorge e
residente em Évora desde 1979, antigo professor do Seminário de Angra e
chefe-de-redacção do saudoso vespertino “A União”, também escritor e poeta,
Artur Goulart é licenciado em Arqueologia pelo Pontificio Instituto di Archeologia Cristiana (Itália), possuindo
pós-graduações em Museologia e História da Arte, sendo que da sua longa e
diversificada experiência profissional, sobretudo no Museu de Évora, destaca-se
o cargo de Director desta mesma instituição (1992 e 1999), onde deu um precioso
contributo à inventariação do seu acervo artístico, à investigação
bibliográfica e ao estudo aprofundado de obras de arte e de material
arqueológico, conforme é justamente salientado na excepcional Página Digital do
projecto que tão competente e prestigiantemente tem vindo a dirigir e cuja visita
vivamente recomendo, aqui: http://www.inventarioaevora.com.pt/inicio.asp.
Numa época em que, por esse
Portugal fora e também entre nós (autónoma, esbanjante e auto-suficientemente,
pois então…) tantos valores e patrimónios humanos, intelectuais, materiais,
artísticos e espirituais vão sendo amiúde atirados à rua – ou aos brincos e
argolinhas da mais incrível discriminação apadrinhada… –, o valioso labor e o dedicado
exemplo cultural, educativo, ético e cívico de Artur Goulart, para além da
amizade pessoal e fraterna que por ele nutro, não podiam ficar, nesta data, sem
registo escrito e merecido louvor público!
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Publicado em Azores Digital:
Jornal "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 25.11.2012);