sábado, abril 25, 2015


As Heranças Hebraicas


Com brilho e projecção, acaba de ser inaugurada a histórica Sinagoga de Ponta Delgada – Sahar Hassamain (“Força dos Céus”) –, assim coroando-se velhas aspirações e assegurando-se também, com dignidade civilizacional e sentido patrimonial, uma acrescida preservação da memória religiosa, socioeconómica e cultural do Povo Judeu nos Açores.




Fundado em 1836 por Abraão Bensaúde, mas abandonado e degradado durante bastante tempo, este templo e moradia de rabino é o mais antigo do género em Portugal, tendo sido construído por judeus vindos de Marrocos e estabelecidos ou regressados ao arquipélago (S. Miguel, Terceira e Faial) na segunda década do séc. XIX (na sequência de anteriores diásporas que remontam a Quatrocentos).




– Tais factos foram aliás agora justamente salientados pelo principal, competente e incansável coordenador executivo deste projecto, o investigador e historiador José de Almeida Mello (por parte da Câmara de Ponta Delgada, instituição à qual o edifício fora cedido pela Comunidade Israelita de Lisboa).



De resto, como Almeida Mello tem relevado, a recuperação desta Sinagoga vinha envolvendo entidades portuguesas e estrangeiras (v.g. associações judaicas norte-americanas), a par de empenhadas personalidades micaelenses, numa articulada e complementar série de diligências cívicas, estudos, campanhas e patrocínios financeiros e técnicos (Alfredo Alves, Paula Raposo, a saudosa amiga e colega Fátima Sequeira Dias, António Valdemar, Santos Narciso, Igor França, Susana Goulart Costa, etc.), todos compelidos no conhecimento e reafirmação das múltiplas heranças e símbolos histórico-sociais judaicos nas nossas ilhas.


« ‘emeq chawah le’am beney ichra’el lahuzat liquebor 
me’at ‘anachim hahem ‘anechey haqa’mera’ hayan  ‘amen ».
 “Campo da igualdade para o povo dos filhos de Israel, 
comprado para sepultar cem pessoas. 
Foi graça dos varões da Câmara. Amen”.

– Na Terceira a presença hebraica foi diligente e minuciosamente estudada por Pedro de Merelim (Cf. Os Hebraicos na Ilha Terceira, Angra do Heroísmo,1966, com edição posterior em 1995)..., mas o Cemitério Judaico (de 1832), que está agora em vias de prometidos cuidados pela Câmara de Angra e de leitura de campas pelo IHIT, tem caído em lastimáveis abandonos, como pude constatar in loco com o Embaixador de Israel, há anos!



E isto para não falarmos da triste ignorância e do desleixo terceirenses em relação ao resto deste bíblico tema e de todos os respectivos alcances retrospectivos e prospectivos...

Angra do Heroísmo, 24.04.2015
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Publicado em  "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 28.04.2015):

























"Diário Insular" (Angra do Heroísmo, 25.04.2015):