sexta-feira, julho 24, 2015


Luminárias do CDS e de PP
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O 41.º Aniversário do CDS, que por estes dias se festejou, deu mais para que o seu melífluo líder, Paulo Portas (PP), encenasse discursos e concedesse entrevistas sobre o partido onde manda, e menos para balanço crítico do significativo papel nacional e regional (com outros líderes, que o actual regente sempre menorizou!) que o CDS cumpriu nas sucessivas e correlatas viragens que a nossa Democracia sofreu...


– De resto mais ajudou esta efeméride a que PP andasse por aí, de estúdio em arraial, debitando lugares comuns, repetindo banalidades, trazendo à fala expressões dúbias ou que ganharam foro e codificação na gíria, amiúde vazia, equívoca ou dissimuladora, que preenche o espaço público-mediático do País, de (quase) todos os partidos e suas classes ou clientelas em geral, e do CDS-PP de modo particular. 


E dessa retórica, ora presumida ora sacrificial e de martirológio, lá se ouviram persuasões e auto-convencimentos (“construtor de maiorias”; “arco da governabilidade”; “arco constitucional de 1976 demasiado ideológico e socializante”; “dádiva cívica”; “sereno povo que se revê no centro-direita e na direita democrática”; “dar a cara, partilhar responsabilidades e correr riscos nas horas mais difíceis”, “horas de maior emergência”, “circunstâncias em que Portugal mais precisava”; “verdadeira alternância”, etc., e até – para além de uma improvisada e incipiente trouxa “filosófica” com Aristóteles... –, um ressuscitado “personalismo cristão para a construção do progresso”...


Fundado em 19.07.1974 por um grupo que abrangia democratas-cristãos, conservadores e liberais (v.g. Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Basílio Horta, Sá Machado e Xavier Pintado), o CDS foi desde então tendo uma crescente, conquanto não linear, importância na vida político-partidária, parlamentar e governativa portuguesa, bem marcada pelas trajectórias e dinâmicas conjugadas de todos os partidos, movimentos e restantes corpos da nossa sociedade, a par, naturalmente, de muito diferentes e sucessivos percursos estratégicos, reformulações identitárias e estilos de liderança (Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira, Manuel Monteiro, Ribeiro e Castro, e PP).

Todavia – como aqui salientei anteriormente –, na criação deste partido, a par de Freitas do Amaral, foi a Adelino Amaro da Costa que coube desempenhar um papel nuclear na orientação ideológica e estratégica do primeiro CDS, dando-lhe uma original feição “centrista” e democrata-cristã, e reclamando-se mesmo de inspirações recebidas do “humanismo personalista” de Mounier – identicamente partilhadas por largas faixas do recém-criado PPD (06.05.1974) de Francisco Sá Carneiro e em parte significativa decorrentes da excepcional e talentosa influência directa do próprio Amaro da Costa (membro do Opus Dei).


– E também nos Açores é justo relembrar hoje todos os empenhos e trabalhos dos centristas e democratas-cristãos do CDS, agora dirigido por Artur Lima, que – desde aquele Memorando (30.12.1975) de contra-posição crítica ao Ante-projecto de Estatuto Político-Administrativo elaborado pela Junta Regional, e depois, passando pelas pioneiras Legislaturas (1976-80, 80-84 e 84-88), então com destaque e méritos para Rogério Contente, Fernando Monteiro, Rui Meireles e Alvarino Pinheiro (deputado entre 1984 e 2006, e incansável impulsionador do relançamento, consolidação eleitoral e credibilização do CDS-PP no Arquipélago) – até hoje, tem um passado de consideráveis contributos para a construção e defesa da Autonomia e para o prestígio das instituições insulares.


Ora inserida noutras e mais actuais lembranças nacionais centristas, para comemoração deste 41.º Aniversário da fundação do CDS, teve também lugar em Lisboa uma luminosa sessão nocturna no Largo Amaro da Costa (recomposto pela câmara socialista lisboeta e actualmente interdito a carros, com pavimento novo, duas árvores numa das extremidades, bancos de jardim e com ilustrado chão onde podem ler-se máximas de Amaro da Costa apuradas por Ribeiro e Castro, Rosário Carneiro e Freitas do Amaral...).


– Justa, legítima, merecida e avalizada evocação esta, portanto! Mas o que não se tolera é que PP, de peito aberto, se tenha aproveitado disto tudo para – anteontem e invocando uma inócua condição “institucionalista” –, vir fazer fúteis juras sobre o seu (afinal...) infrutífero, inconsequente, improfícuo e gratuito conhecimento (?) dos Relatórios comprovativos (e por ele mal contados...) do real assassinato de Amaro da Costa e Sá Carneiro!


De facto, sobre esta questão criminal como aqui salientei há poucas semanas, o Relatório da X Comissão Parlamentar de Inquérito à Tragédia de Camarate (procedendo a uma análise de questões fulcrais que envolveram o Fundo Militar do Ultramar, as Forças Armadas (CEMGFA), a exportação e comércio de armas e o manuseamento de fundos, etc., até às mortes de José Moreira e Elisabete Silva), é um documento insofismável e determinante que, retomando “um trabalho exaustivo por parte da Assembleia da República nas últimas três décadas” e depois de reiterar “os principais factos apurados pelas Comissões de Inquérito – designadamente a renovação das conclusões e, em particular, as das V, VI e VIII Comissões de Inquérito” – procede a uma detalhada revisão e contextualização histórico-institucional e testemunhal de todo este caso (de certa maneira ainda pendente ou adiado...), porém salientando logo de início que a respectiva investigação “não se debruçou exaustivamente sobre questões técnicas nem sequer sobre a discussão acidente vs. atentado, [porquanto] dá-se por concluído e provado de forma inequívoca, na senda das últimas Comissões, que se tratou de um atentado. Não se tendo apurado nada de novo neste campo, a X CPITC não deixou de ouvir dois depoimentos que, de forma categórica, reiteram que a queda do Cessna que levava, entre outros, o Primeiro-Ministro e o Ministro da Defesa, se deveu a um atentado”!


– Assim sendo, depois das ditas evocações deste 41.º Aniversário do CDS, veremos até onde é que chegará a coerência e a coragem (para além da tal confusa e ambígua “moderação” aristotélica que PP alegou em expedito desbarato, dando-se ares, pouco convincentes aliás, de pensador erudito e de estadista, o mesmo que redigiu uma tal famosa lengalenga para “Reforma do Estado”...) –, ali perante uma dignidade outra apenas emprestada pelo Prof. Adriano Moreira e pelo Dr. José Ribeiro e Castro, num cenário de azulada luminotecnia e quase à boca de cena das próximas campanhas, luminárias fátuas e feiras eleitorais, tão apropriadas e validas ao nosso frenético Paulinho delas...
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Em  “Diário dos Açores” (Ponta Delgada, 25.07.2015):


RTP-Açores:



























e Azores Digital:





















Outra versão em “Diário Insular” (Angra do Heroísmo”, 25.07.2015):