domingo, maio 08, 2016


Maio em Abril?
_________________________________________________


Ao leitor poderá parecer que título desta Crónica altera ou parece trocar a sequência cronológica do repertório-padrão dos meses, baralhando as agendas com que usualmente preenchemos os dias e que nos diversos calendários, almanaques e devocionários vão registando o girar cíclico do Tempo, a sucessão das estações, ciclos festivos, acontecimentos memoráveis e todas as datas que são marcos culturais e histórico-existenciais dos indivíduos singulares, das comunidades e das várias, mutáveis e sucessivas civilizações.



Isto mesmo registou o nosso Eça, num notável texto de 1895, quando – começando por recordar uma antiquíssima lenda do Talmude sobre os dois sábios filhos de Seth que “naquele caminho perdido da Mesopotâmia, sob a tristeza imensa da tarde, determinaram arquivar, escrevendo em matéria imperecível, a Ciência que possuíam”, e que, “na derradeira madrugada, finda a Obra, (...) levantando as faces cansadas, louvaram o Senhor que lhes concedera tempo de cumprirem, para com os homens da outra Humanidade, aquele dever final de fraternidade magnífica” – observou que “cada povo que se organiza, e se prepara para a História, imediatamente organiza o seu Almanaque, com o cuidado e a previsão com que traça as ruas da sua cidade”, não só nos habilitando “a que vivamos bem, na larga vida social e espiritual, mas a que a vivamos bem, com doces facilidades, na vida pequenina e caseira”...


 – Ora vem este tema a propósito do título desta coluna (ou vice-versa que fosse, o que para o caso tanto faria), porque, especialmente longe dos lugares e quadras locais, se volvêssemos olhos para as coisas e loisas circunvizinhas, talvez não antevíssemos muita discrepância de factos e de sentidos quer começássemos por 1 de Abril, proverbial festejo da mentira ou peta, ou pelo 1.º de Maio, solene evocação da ternura e saudade das Mães do Mundo, da (amiúde espoliada) dignidade universal dos Trabalhadores e do Trabalho, e (enfim...) do arranque doméstico de (in)certos lustres brasonados, desde os castiçamente dependurados nos arraiais e cordas populares até aos suspensos em brasonadas bazófias e capotes, que como tal para pouco prestarão nos almanaques de hoje e nos do Futuro!
____________

Em "Diário Insular",
Angra do Heroísmo, 07.05.2016:























Azores Digital:






















RTP-Açores:



























e "Diário dos Açores" (Ponta Delgada, 12.05.2016):